Das Catequeses de Jerusalém
(Cat. 22, Mystagogica 4,1.3-6.9: PG 33, 1098-1106) (Séc.IV)
Na
noite em que foi entregue, nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão e,
depois de dar graças, partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo:
“Tomai e comei: isto é o meu corpo”. Em seguida, tomando o cálice, deu
graças e disse: “Tomai e bebei: isto é o meu sangue”
(cf. Mt 26,26-27; 1Cor 11,23-24). Tendo, portanto, pronunciado e dito sobre o pão:
Isto é o
meu corpo, quem ousará duvidar? E tendo afirmado e dito:
Isto é o meu sangue, quem se atreverá ainda a duvidar e dizer que não é o seu sangue?
Recebamos, pois, com toda a convicção, o Corpo e o Sangue de Cristo.
Porque sob a forma de pão é o corpo que te é dado, e sob a forma de
vinho, é o sangue que te é entregue. Assim, ao receberes o corpo e o
sangue de Cristo,te transformas com ele num só corpo e num só sangue.
Deste modo, tendo assimilado em nossos membros o seu corpo e o seu
sangue, tornamo-nos portadores de Cristo; tornamo-nos, como diz São
Pedro,
participantes
da natureza divina (2Pd 1,4).
Outrora, falando aos judeus, dizia Cristo:
Se não comerdes a minha carne e não beberdes o
meu sangue, não tereis a vida em vós
(cf. Jo 6,53). Como eles não compreenderam o sentido espiritual do que
lhes era dito, afastaram-se escandalizados, julgando estarem sendo
induzidos por Jesus a comer carne humana.
Na
Antiga Aliança havia os pães da propiciação; por pertencerem ao Velho
Testamento, já não mais existem. Na Nova Aliança, porém, trata-se de um
pão do céu e de um cálice da salvação que santificam a alma e o corpo.
Assim como o pão é próprio para a vida do corpo, também o Verbo é
próprio para a vida da alma.
Por
isso, não consideres o pão e o vinho eucarísticos como se fossem
elementos simples e vulgares. São realmente o corpo e o sangue de
Cristo, segundo a afirmativa do Senhor. Muito embora os sentidos te
sugiram outra coisa, tem a firme certeza do que a fé te ensina.
Se
foste bem instruído pela doutrina da fé, acreditas firmemente que
aquilo que parece pão, embora seja como tal sensível ao paladar, não é
pão, mas é o corpo de Cristo. E aquilo que parece vinho, muito embora
tenha esse sabor, não é vinho, mas é o sangue de Cristo. Antigamente,
bem a propósito, já dizia Davi nos salmos: O pão revigora o coração do
homem, e o óleo ilumina a sua face (Sl 103,15). Fortifica, pois, teu
coração, recebendo esse pão espiritual e faze brilhar a alegria no
rosto de tua alma.
Com o
rosto iluminado por uma consciência pura, contemplando como num espelho
a glória do Senhor, possas caminhar de claridade em claridade, em
Cristo Jesus, nosso Senhor, a quem sejam dadas honra, poder e glória
pelos séculos sem fim. Amém.
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